Vão à nossa frente as Seixas
com as beiças a escorrer
salve-rainhas em pingo
porque é outra vez domingo.
A minha avó chama-lhes
"raparigas do meu tempo."
Embicam para o convento,
sobem a custo as escadas.
Bem nascidas, mal fadadas,
coitaditas, com bigodes
frisados à rei Herodes,
missais, malinhas de mão...
A mais velha já foi rica
e a outra já foi bonita,
casada com um capitão
dos barcos do bacalhau.
Upa degrau a degrau
para o alto onde se alcança
toda a bem-aventurança.
Ficam as Seixas para trás
mas nós seguimos avante,
rumo à pastelaria Império
onde há um bolo furado
por chantili cor de rosa
de consistência rugosa,
uma coisa gorda, louca,
para durar largos instantes
na boca.
O travo do seu corante
lambido pela rua fora
ainda me risca agora.
Sem comentários:
Enviar um comentário